- Como é o Brasil? Perguntou-me Sr. Manuel, pescador pai de três crianças, um ser entre os poucos cinco mil Humanos da Ilha de Inhaca.
Preocupado com o tempo e querendo conservar o oxigênio que me restava após quatro horas de caminhada, somente larguei o meu silêncio na condição de responder ao Sr. Manuel no mesmo rítmo das nossas passadas por dentro da ilha:
- É maravilhoso, parece também com Inhaca, mas ainda tem muita violência.
- O que é essa tal Violência? Retruncou-me Sr. Manuel.
- O senhor está me perguntando o que é a violência? Respondi sorrindo amarelo com um certo ar de inferioridade e inveja, como quem se questionasse: "Mas será possível que ele não sabe o que é violência?"
E então Sr. Manuel freia lentamente, se virá e olha para mim, o seu próprio vácuo. Em silêncio, com os olhos a piscar me faz sinal de positivo como responta, portando um semblante tranquilo e distante de quem acabará de fumar um baseado fechado com um fino papel amarronzado meticulosamente extraído a unha de sua caixa de fosforó sem fósforos. Fumará ele um back não costumeiramente colado por saliva e lingüa, mas lambido pela cabeça do dedo indicador, que fora molhado, como cabeça de bebê em batismo, pelo último gole da minha garrafa de água mineral sem gás.
Sem saber o que responder exatamente ao Sr. Manuel, por um momento até parei um pouco de me preocupar com a hora da volta do Ferryboat a Maputo e me pus a buscar uma explicação para Sr. Manuel sobre A Violência. Mas não teve jeito, meus olhos urbanos optaram pela rápida violação da verdade e da vergonha a não ter que se explicar perfeitamente para aqueles olhos brisados que poderiam me esperar ali por toda vida:
- ... Ixe Sr. Manuel! Violência-são-certas-coisas-ruins-cometidas-pelo-homem. Respondi isso num único e gemido som, exatamente para não ser entendido, porque não sabia de fato o que responder, e principalmente porque não queria me converter no animal que geraria o virus da Violência na vida e no vocabulária daquele Senhor e da sua família. Como bom brasileiro tentei um drible na explicação, e logo após dispor a primeira parte da resposta ao Sr. Manuel, imendei: ... MAS ainda bem que o senhor não sabe quem é e o que é a Violência! Dê graças, pois saiba que o senhor não está perdendo nada por não conhecer a tal Violência...
Após está perdido na ilha e impedido de voltar a cidade de Maputo, fui salvo graças ao Sr. Manuel, e devido a ele cheguei a tempo de pegar os últimos barquinhos que levavam os visitantes de Inhaca até o ancorado Ferryboat que esperavam em alto mar. Nem cheguei no Ferryboat e logo minha consciência se escrevera no meu casco, mais ou menos igual como a consciência dos caminhoneiros, no Brasil, costumam se dispor em suas carrocerias:
A violência não é fruto de sabedoria, é apenas mais uma fórmula de respostas para a inteligência humana.
Um dia serei mulher
Há um ano