sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Violência não tem "cheiro de Inhaca"

- Como é o Brasil? Perguntou-me Sr. Manuel, pescador pai de três crianças, um ser entre os poucos cinco mil Humanos da Ilha de Inhaca.

Preocupado com o tempo e querendo conservar o oxigênio que me restava após quatro horas de caminhada, somente larguei o meu silêncio na condição de responder ao Sr. Manuel no mesmo rítmo das nossas passadas por dentro da ilha:

- É maravilhoso, parece também com Inhaca, mas ainda tem muita violência.

- O que é essa tal Violência? Retruncou-me Sr. Manuel.

- O senhor está me perguntando o que é a violência? Respondi sorrindo amarelo com um certo ar de inferioridade e inveja, como quem se questionasse: "Mas será possível que ele não sabe o que é violência?"

E então Sr. Manuel freia lentamente, se virá e olha para mim, o seu próprio vácuo. Em silêncio, com os olhos a piscar me faz sinal de positivo como responta, portando um semblante tranquilo e distante de quem acabará de fumar um baseado fechado com um fino papel amarronzado meticulosamente extraído a unha de sua caixa de fosforó sem fósforos. Fumará ele um back não costumeiramente colado por saliva e lingüa, mas lambido pela cabeça do dedo indicador, que fora molhado, como cabeça de bebê em batismo, pelo último gole da minha garrafa de água mineral sem gás.

Sem saber o que responder exatamente ao Sr. Manuel, por um momento até parei um pouco de me preocupar com a hora da volta do Ferryboat a Maputo e me pus a buscar uma explicação para Sr. Manuel sobre A Violência. Mas não teve jeito, meus olhos urbanos optaram pela rápida violação da verdade e da vergonha a não ter que se explicar perfeitamente para aqueles olhos brisados que poderiam me esperar ali por toda vida:

- ... Ixe Sr. Manuel! Violência-são-certas-coisas-ruins-cometidas-pelo-homem. Respondi isso num único e gemido som, exatamente para não ser entendido, porque não sabia de fato o que responder, e principalmente porque não queria me converter no animal que geraria o virus da Violência na vida e no vocabulária daquele Senhor e da sua família. Como bom brasileiro tentei um drible na explicação, e logo após dispor a primeira parte da resposta ao Sr. Manuel, imendei: ... MAS ainda bem que o senhor não sabe quem é e o que é a Violência! Dê graças, pois saiba que o senhor não está perdendo nada por não conhecer a tal Violência...

Após está perdido na ilha e impedido de voltar a cidade de Maputo, fui salvo graças ao Sr. Manuel, e devido a ele cheguei a tempo de pegar os últimos barquinhos que levavam os visitantes de Inhaca até o ancorado Ferryboat que esperavam em alto mar. Nem cheguei no Ferryboat e logo minha consciência se escrevera no meu casco, mais ou menos igual como a consciência dos caminhoneiros, no Brasil, costumam se dispor em suas carrocerias:

A violência não é fruto de sabedoria, é apenas mais uma fórmula de respostas para a inteligência humana.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vossa Emergência

- Noooooossa! Que lugar chi-quér-ri-mo!
Parece a morada da princesa Diana! Per-fei...

TOWNNNNN! Escuta-se um forte barulho.

...
Desarmada da bengala
tradicional cega em tiroteio
Brasileida
corre em destino estrangeiro
tropeça no meio fio da História

derruba os óculos de sol
recoloca os graus nos olhos
aluga condução particular
pede ordens ao primeiro branco:
- Volta e vira a primeira a direita!
dá marcha ré sem retrovisor
quase bate em continência
freia forte
não prevê a vinda da luz vermelha
derrapa os pneus

para

respira abaixo do semáforo
acima da faixa branca

Automática
abaixa meia janela do carro
Importada
exporta um sorriso diplomático
pousa para o policial do apito
promete emprego ao pedinte
pede perdão aos poucos pedestres

só negros

O sinal para de sangrar
Brasileida não sai mais para a direita
nem entra a esquerda
Socialyte emergente
segue incolor...
se reconhece nos subtons da tataravó
Senhora Sula Afriqueila.

sábado, 3 de outubro de 2009

Arco-íris de Saudade

Hoje acordei com muito frio
Com imensa vontade em me revestir de pano
Cobrir-me a alma com água do Mar
Daquele velho açude de oceanos.

Hoje caminhei com vontade de chuver pra cima
Mas só havia chão aonde eu pudesse escorrer
Por mais que a rua escutasse os compassos dos meus órgãos
a terra não tem mais vontade de ser repercussão da alma

E para alcançar meu pano, meu mar, meu açude e minha chuva
restou-me tocar os colírios da flora vespertida
até que um lago de lágrimas caisse do meu céu
espalhando retalhos de pétalas coloridas
espelhando um arco-íris de galhos retorcidos
POR MUITA SAUDADE.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nóis

...
E cada vez mais confuso,

o NÃO
pela milésima vez questionou ao SIM:

- Devo ME compreender pra compreender VOCÊ?

E o SIM
pela milésima vez respondeu ao NÃO:

- Olhando pra você, VOCÊ ME VÊ?
...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"artista",

O PRO ou o COM
adverte

Cidadão
não se
não me
afirme
mais
ser
fazedor
da Arte

QUEM FAZ ARTE É A HISTÓRIA
.

sobrevivamos...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Confúcio?

Xangô,

Por mais que eu me embriague de preto e vermelho... os últimos finais de semanas regados por chuva, lua cheia e mar insistem-me inspirar Exú mais mãe Iemanjá... e também transpirar o céu azul com rosas brancas... como se catucassem meus restos de dúvidas para colher mais certezas... as insustentáveis levezas do ser...

Entre finais cheios de semanas e semânticas que ressacam e ressecam, assobiam para dentro, tragam fumaças de poeiras, acúmulos do tempo entopem os bueros dos nossos poros... nos prendem os espirros mais fortes... implodem os timbanos... transbordam de energias os chacras... lavando certas vontades... elevando-nos em vapores de lágrimas pelos ralos... pelos canos e cânones do céu... condensando-nos em nuvens de chocalhos... em seios grávidos... em frutos recém-maduros... em noites trovoadas por tambores silenciosos... Irradiando-nos os sons de todos os SINS... tocando os tlin-TLINS dos sinos universais...

São sons capitalizados por companhias energéticas não privatizadas... Águas-de-cheiro... Cremes arenosos... Pedras sabão... Feitos de ervas finas temperados com sal a gosto... Como uma onda no mar...

Muito Confúcio para meu orixá? Apenas sinestesias da vida vermelho e branco para além da morte.

sábado, 28 de março de 2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

Embaixo do tapete vermelho...

Em tempos de silêncio capital
pós-carnaval
somos retalhos de fantasias financeiras
restos de personagem de palhaço
lisos, rocos, molhados
como é dificil se desmascarar
voltar a ser gado
ser a mais pobre rima da palavra desempregado

Para andarmos no reino de príncipes e de gênios da lâmpada
joguemo-nos em último pedido embaixo de um tapete vermelho
voador
interplanetário
hollywoodiano

Hoje somos kombeiros clandestinos de desenho animado
ADO, ADO, ADO
CADA UM COM O SEU PIRATEADO

voamos como poeira de purpurina pelos espaços
vivemos a saudar todos os espirros que nos seguem o passo

Mais baixo o preço do petróleo
mais alta a taxa do passe-livre que nos cobram
cara?
de pau em pau
os presidentes enchem a pança do povo de papo
cultivando a cultura e a sua inércia
com comédias
"OXE MAINHA!"

Senhores críticos, cults e intelectuais
não se enganem
o roteiro da "Paixão de Cristo"
há 2009 menos 33 anos nos revela
a massa é sadomasoquista
e vouyer como vocês
que nos pisem
e nos arranquem o coro pelas costas
nós sofre
nós morre
nós não ressuscita
mas alguém goza

Talvez só um outro toró de tijolo
uma trepada com um pé d'água
um novo dilúvio na veia
podem nos lavar todo cimento da História
pois só as nuvens inundam de ardores os cortes
só as grandes chuvas coçam com as unhas a cura

São essas as sensações que nos apontam para os próximos saltos
sejam com tênis pseudoamericanos
com percatas pseudohavaianas
ou inté descalços

Já não importa a ferradura
nem a origem do cavalo
nem o porte do seu montador
nem peia do seu proprietário

quanto pesam todos os pés
sem a soma dos sonhos de seus apostadores?

Desde de crianças estamos na moda verão-inverno
vestindo camisinhas de coro de pica
"nem fodemos, nem saimos de cima!"

parecemos Rambos revestidos de Gandhis
metralhadoras giratórias sem balas
que só falam, falam e
SÓ FALAM

estamos mais filmes do que firmes
mais "de mentira" do que "de verdade"
bem menos "o mocinho" do que "o bandido"

Miro, admiro, mas admito,
para certos sentidos coletivos,
eu não mais existo

observo, cerco, mas não sirvo,
para certos olhos ressecados,
eu não mais colírio

Sequela?

impaciência

gatilhos de arma
cala
engatilham a quinta
marcha

Gastem todas as palavras
em movimento
para no próximo “era uma vez”
se cansarem mais em ação

Usurparam toda esquizofrenia da nossa razão

os próximos rumos já estão pintados
de alvo e rubro
NÁUTICO!? BANGU!?

Até cu de bebo já tem dono

apenas nadem e torçam
o nariz
para não morrerem na próxima praia
como estrelas cadentes de cinema pornô
em quarta-feira de cinzas

sem o uso do último pedido
e privados do próprio segredo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Em cena desconcertante...

Como é marcante encenar histórias desconcertantes! Deve ser porque as suas vivências ao tempo que nos destrói, também reconstrói, nos coloca diante o inverso do universo, cai de paraquedas trepando sobre as nossas costas já nos chamando pelo apelido mais cabeludo da infância, exatamente para todas as nossas criações de agora se desconcertarem com as de ontem.

É como ver uma freira vestida de fio dental rezando de quatro já aguardando a penitência e a salvação para o próximo ato. Se deparar com momentos desconcertantes provoca perda de memória presente, e ao mesmo tempo a construção recorde de nossos museus dentro da mente. Vivas às improvisações! Pois em física nos retiram o doce do salgado; em química, a base do ácido; em meio a nada, só ao susto, fazem o disparo de todas as defesas e tentam a fuga de ataques ultrasurpresas... Olham, por exemplo, para o inevitável "Oi, tudo bem?" com a JÁ reacompanhada ex-namorada e fazem-nos engolir o tempo-espaço a palo seco. São momentos em que automaticamente fotografamos e somos fotografados, que sugam quase todo o nosso ar, reenquadram toda ação, impõem um sorriso no retrato... E nos revelam o grande "Xis!" da questão.

E depois correndo para olhar a já revelada fotografia em passado, ainda voltamos a sorrir desconcertado observando a nossa fraca atuação... Como também a falta de pré-produção para as próximas pós-produções. E então nos questionamos:
- Por que ficamos totalmente "errados" em sorrir pelo avesso?

Alguns seres que se acham inteligentes poderiam responder essa pergunta com outra pergunta:
- Por que nos acostumamos a prevê a própria história?

Eu, pessoalmente, também "fico com a pureza da resposta das crianças" que certo dia questionarão os seus pais:
Por que não nos ensinaram a sorrir com naturalidade para os ruídos da natureza?

- "... BOM DIA CAROS OUVINTES! SEGUNDO OS INSTITUTOS DE METEOROLOGIA: HOJE VAI CHOVER FORTE DURANTE TODO O SÁBADO DE CARNAVAL NA CAPITAL PERNAMBUCANA..."

Se não aquenta... Pa quê vêio!?

terça-feira, 3 de março de 2009

Entre ossos e sonhos...

"Eu sou feita de sonhos tanto quanto sou feita de ossos"
(Capricórnio, 03.2009)

Me parece que
na praça da Bandeira
na noite de sexta-feira
a sopa de Capricórnio não foi feita
para todas os pombos pousarem...

Apenas para os que voam em silêncio
com respeito e classe
sem quaisquer ruídos ou bater de asas...
com pousos e olhares firmes,
únicos,
quase cegos,
corujas,
cheios de carências, curiosidades e mistérios.

Quem é da noite
gosta de ser personagem das próprias histórias
ser o sapato esquecido do conto de fadas ou
o grande peixe encontrado na boca dos pescadores.

Quem é da noite
Gosta de olhar ou de ser olhado pelos olhos da noite.
Gosta de mostrar suas maquiagens e máscaras
borradas ou iluminadas?
Personalizadas!

Quem é da noite
Acredita ter o total auto-controle,
ter as cores e as horas certas para se ligar na vida
e guarda sempre uma margem de incerteza para o final.

Quem é da noite
conhece as leis da lua,
sabe quando/onde se meter, mandar e até obedecer.
Quem é da noite faz seus maiores amores na escuridão,
com poucas velas,
em esquinas, becos ou vielas.
Quem é da noite já andou a pé pelas sombras,
gosta de sentir medo, vida, morte e liberdade.
Quem é da noite
do dia só lembra em ter que acordar.

Em contrapartida,
sem contagem regressiva, jogos pirotécnicos e tin-tins de taças,
quem é da noite tem que aprender a prevê o próprio tempo
de sobriedade, embreaguez e esquecimento...
O exato momento da despedida.

Quem é da noite
valoriza em ser cuidado sem licença prévia,
vive no "o que vier é lucro".

Quem é da noite
finge que se preocupa mais com a ação do que com a intenção,
troca o visceral pelo incerto,
cresce sem raios de reciprocidades artificiais...
sem luzes e sombras de alianças.

Entre ossos e sonhos,
resta a libra da tarde
tomar a sopa de capricórnio da noite
e fazer o que fez a sua vó outro dia,
antes que o gerador a óleo disel fosse desligado,
"Se não tirá pedaço, se soma à pele;
Afina o tato diacho!"

Maduro...

Quem amadurece demais apodrece!

Pessoalmente gosto de fruta com sal,
bem inchada,
azeda que contrai o corpo,
adormece os dentes
e fortalece a alma.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Adiosnísio

Introdução

Musiquinha de fundo para Dionísio vir lá do fundo em ritmo de funk:

a primeira faz BRO!
a segunda faz CHAN!
e TE, TE, TE, TEEEEE... FODE!

Desenvolvimento

João, sem qualquer fantasia, encontra Maria vestida de tartaruga ninja azul no carnaval:

- Olá meu amorzinho!
- Que nada maluco! Amorzinho de carnaval de cu é rola!
E novamente ao som de funk João responde:
- AN-HAN, AN-HAN, AN-HAN! DÁ, DÁ, DÁ!?
- Toma esse beijinho e despacha logo daqui. Carnaval é solidão coletiva, liberdade carnal e para isso vale tudo nos quatro dias. E continua explicando Maria:
Pode mandar a consciência desfilar nua e de quatro;
Pode trepar com as pedras que haviam no meio do caminho;
Pode gerar atritos sem leis e quaisquer delays de efeito e causa;
Pode beijar em nome do pop, do fino e do espeto de frango;
Pode se engolir todas as chuvas de sapos de São Pedro.

Conclusão

Até as putas que um dia nos empareou têm coragem de mandar vários Nós-de-361-dias pegarem os sabonetes deixados no chão das próprias prisões.
À todas as tartarugas ninjas foragidas da Sala da Justiça, minhas últimas palavras para os seus próximos, mais de quatrocentos menos quarenta, dias de volta ao esgoto:

"EU ACHO É POUCO É BOM DEMAIS!"

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

...Tom.

Violeta,

Tenho sede de pressa
Mas o Branco me diz que devo esperar pelo Azul
mesmo que ainda esteja verde
encaracolado entre cachos vermelhos recém-pintados.

Todo fruto tem seu tempo para por o pé no chão.
Todo fruto tem seu tempo para por o pé no céu.
Principalmente aqueles que têm medo de alimentar as suas certezas...

Deixemos que se nutram de falsas liberdades e de belas mentiras
para que aprendam a desenhar a história das próprias verdades.

A natureza desde de sempre já gritará:
Vermelho! Violeta com verde,
mais dia ou menos dia,
Será azul.

Está claro ou mais escuro?

"Tudo" é uma questão de TOM.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mandala

Mandala azul celeste
Olha
que aonde estou não estou na sua frente.

Olha eu aqui em cima!
É aqui que eu habito,
no seu céu,
colhendo com dedo frutos tirados do pé.

Para chegar Aqui
tive que passar Por-dentro-de-mim,
inclusive pelas formigas e excessos de galhos,
tive que usar a minha mão-natureza...
A velha escada da casa-da-árvore.

Aqui se larga o prato, o garfo e a faca.
Aqui se chupa manga com leite, casca, cabelo e caroço.
Aqui se vive o cheiro ainda verde de tudo que há aqui.

Aqui meu chão caminha junto com o seu espaço,
Aqui sei o que não chega e o que sai dos meus poros
...
um cheiro salgadim, dim-dim de saudade,
um beijo docim, sim-sim de dedão
polegar
...
bem bem bem...
tocado!
Que quando indicar a testa do seu céu,
apontará à entrada da noite
...
o centro de uma ampulheta de energia
que passa
sem areia
sutil
...
Toma mandala azul celeste
um pouco de chuva-de-estrela
de minha energia em querer a...
mar
...
permita-me lu-bri-ficar o hímen da tua liberdade
onde nada,
somente a lembrança do tato,
saberá que um dia um certo anjo do céu
se precipitou,
rompeu
e derramou lágrimas brancas
em letras vermelhas
sobre o seu olhar azul celeste
para
Aqui
silenciar
o além

de você

em você
em paz