domingo, 16 de novembro de 2008

Abacaxi?

Senhorita Será,

Independente do sexo... Todo o Homo Sapiens que se preze já acordou com a bexiga de pé... Erectus... Gritando BOM DIA antes mesmo da própria mente parir... E deu tanta importância à condição "de saco cheio" da genitália que, para conseguir logo acalmá-la, desprezou a existência das demais partes de si, por exemplo... Os olhos... Virou cego em procissão... Máquina de fazer romaria ao santuário da urina-de-todo-santo-dia... Não dando a menor atenção, ao menos antes de partir para a peregrinação do xixi, ao momento mais mágico da manhã... Ao instante da reabertura das pálpebras... Ou ao natural ponto de transição entre a vida do faz-de-conta e o canto da vida íntima... Expondo à luz o par de pupilas dilatadas, sem qualquer cerimônia de abertura... Atendendo a desejos primitivos e ordinários... Não percebendo que pela suas janelas ciliares havia liberado todos os seus óvulos oculares ao bombardeio de milhões de raios de espermas solares, igualmente como fazem em vídeos pornôs as atrizes com as suas vaginas... Transformando o que poderiam ser grandes-imagens-daquele-dia em vulgares-imagens-de-mais-um-dia...

Mas então eu te digo Senhorita Será... Seja criativa ou a própria criação... Pare de te condicionar a banalidades... Pois te enganas ao achares imenso o teu esforço de correr o mais rápido ao banheiro... Eis uma óbvia decisão... Engana-te ao despejar todos os teus sonhos de uma noite sobre mais um vaso sanitário... Grande merda!

Peço-te licença... Permitas-me uma recomendação... Não te mexas... Permaneças como estás... Descoberta... De bruços e membros abertos... Folgada como sempre... Invadindo todos os hemisférios da nossa cama... Por um momento te peço que esqueças dos meus cabelos e do teu sexo... Que agora sejas a pura inocência ou a sonsa que, de vez em quando, sei que gostas de ser... Porque aí deitada... Estátua... Viras história... Representarás a própria memória e saudades das tuas brincadeiras de infância... Batatinha frita: um, dois, três... Abacaxi? XI-XI... Até "seu rei mandar dizer" que finjas ao teu pai-companheiro que és um bebê... Faças-lhe saber que além de nossa mulher, também és aquela mesma criança... E após ansiosa espera... de olhos fechados já trêmulos... Quando ele colocar a mão recém acordada por dentro da tua fralda de algodão... Checando o nível da tua lubrificação... Saberás que aquele é o exato momento em que a vida vai estar te reintegrando à liberdade condicional de fazer pipi na cama... Até que a última gotícula de arrepios te abra lentamente os olhos para uma face surpresa de desejo e de gratidão... Reais.

Apartheid do Participando Composto...

Letra: e se tiver ou se não foi?
Melodia: quando é ou não veio?
Harmonia: como vai ou não quis?

Maestrando,
Sol na clave de Fá!
SOFÁ?
Mi em cima de ti sem dó sustenido maior,
Ou...
Ré em baixo de si aumentado?

Lombrarde,
Qual foste a música!?

Eu cantaste em negrito...


Tu escrevo em itálico?

sábado, 15 de novembro de 2008

JORNAL INSÔNIA, Coluna Social, "Um Voyeur da Madrugada..."

Colunista: David Sobel

No centro acústico da reverberação alheia: em "Campina da Boca Grande", direto do mais alto ouvido de um prédio com três andares localizado no epicentro da língua da cidade, iniciou-se um envolvimento entre: o Som “da necessidade do silêncio”, o Som “da necessidade do som” e o Som “da necessidade do sono"...

Som “da necessidade do silêncio”
...
Som de cooler,
Som de freegobar,
Som de ventilador,
Som de escada,
Som de ausência do motor e das correntes do elevador dos pais,
Som de saudade de som.

Som “de Olhos Fechados”
...
Som de sirene do carro de lixo,
Som de apito dos vigilantes,
Som de cães...
Som de paranóia,
Som de gatas...
Som de cio,
...
Som "de Transitoriedade das Cores"
...
Som de galo...
Som de coronéis,
Som de passarinhos...
Som de softwares livres,
Som de sampler de “bom-dia!”.

Som “da necessidade do som”
...
Som de “tic” nervoso da cadeira,
Som de estalar os ossos dos ouvidos,
Som de assobiar uma melodia vulgar,
Som de espirros dos livros e das fitas cassetes,
Som de coçar as escamas de suor,
Som de respirar forte quando não esquecer de respirar,
Som de pressionar com a língua o bafo de cigarro entre os dentes da janta,
Som de dialogar com uma composição ainda no ventre.

Som “da necessidade do sono”
...
Som de inspiração do Som “da necessidade do silêncio”,
Som de transpiração do Som “da necessidade do som”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

De ti-tio para pa-pai...

Olhos que me amanhecem os olhos...
em azul...
Maria do céu-de-aracajú.

Coceira...
Ação da natureza...
A rede balança...

Eu, objeto voador não-identificado...
tenho o indicador direito...
de duas décadas e meia...
roubado...
por cinco pétalas de dois meses...
Surpresa?
Um presente de Deus...
deitado entre os meus braços...

Viro chupeta de coração sem dentes...
Objeto de barbas...
atenciosamente observado...

Não me piscam...
Encaro o olhar...
Fico pequeno...

em conta-gotas...
Água na boca...

Babo já babá,
refaço xixi na colcha...
Choro,
Cheiro,
Chovo...
E toco...

chorinho...

A evolução da vida pode estar num vinil...
Dois violões...
ou em lágrimas...

O tempo é mãe...
do silêncio, do som...
do peito, da fralda, do algodão, da loção, do talco, da pomada,

da pegada do gênio...
Do partido alto...
Possivelmente boa de peia, pisas, palmadas...
Vaias?

Várias palmas!

... pa... tu... li... pa... tu... li...

O horoscópo das flores...
jazz escutam de longe a própria voz...

... PA... TU-LI-PA... TU...

Identificam os meus acordes...
nos reflexos dos girassóis azuis...

que ainda olham para mim...

BLEM dentro de mim...

... LI-PA... PAI.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cartesianus...

Sou assim Descartes...
Fabricante de produtos com defeito de fábrica,
Disléxico no pensamento,
Orador das paralinguagens,
Empregado e nem sempre pregador...
das próprias sinestesias e orgias.

Um escritor-de-dedo...
sentado na areia da praia,
leitor de íris e de pálpebras...
não de pontuações e nem de palavras.

E eis aí a Arte no meu cotidiano...

Para alguns é algo que surge da fé,
em momentos mágicos...
num ato de sublime ins-
...
Piração...
Para mim é muito menos...

para que seja assim
sim
muito mais...

Antes de ser meta é físico.
É simplesmente ne-ces-si-da-de...
Ação fisiológica pulmonar de excreção.
Uma mera bombinha de ar,
Ou mesmo a própria asma...
ao asfixiar todos os meus Estados de sobrevivência...
pura...

Transpiração para continuar a respirar.

Ou melhor ainda...

É também inspiração...
Mas não um ato de liberdade,
Mais sinônimo até de reclusão...

Vem quando a ignorância me deixa mudo...
Sem ação.
Com vergonha de expor os cabelos da bunda...
Exalto a beleza do cu
sem acento
da razão.