domingo, 22 de janeiro de 2012

Rua,

Acordei com saudades da luz. Ainda escuro, a luz estava longe de chegar pro meu dia. Clara, como há muito não miopia, a luz dormia seus raios apagados pela guerra de ontem. Aurora, como há muito não vestia, a luz despertava surpresa na noite. Branca. Dormia. Não estava por chegar das avenidas. Dormia o sono da estrada. Dormia sua força de mãe, bailarina. Dormia para acordar com fome de mais e com sede de menos. Dormia toda a minha alegria...

Dorme em paz dona rua e quando acordar ilumine essas palavras com a sua pele, poesia.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Odara

Ele passou o dia ruminando a música... Nu, vestido de violão, ouvido e lingua, tentou a canção nos dedos... magrinha e vestida de rimas brancas, a música parecia distante de caber em suas grandes palmas fechadas... Circulava baixinha... tão brisa que quase nem se escutara... o músico logo colocou o seu ouvido no chão.. lá estava ela... tudo ficara móvel.... os cabelos coloridos do tapete começaram a voar... sem tirar a música do chão, o músico levantou um dos braços... se segurou nos pés da mesinha central da sala para não cair... dificil... tocou três vezes na madeira e fez tudo voar para a cama... inclusive a música... enquanto as luzes e os sons do dia de fora não deixavam o músico anoitecer dentro do quarto... a beleza da música matinha o músico deitado... aberto... olhava o violão em silêncio e o som ainda tocando os seus martelos... assim criou novos arranjos para as suas cordas... usou poucas notas... mistas... mimos em compassos dois por quatro... sussurros temperados a calor e suor... vestiu a melodia de gozos... ressoou cânticos de Odara ou desce.

gaiola

Quanto maior a gaiola, menor o passarinho.

rave

Era mais um dia de cidade normal e bosta, onde em busca da sua igualdade, vários trabalhadores dançavam o bater-estacas dos carros. Paredões. Música eletrônica sem direito a neons, globos, raios e cores.

"Ela é puro êxtase!", resmungou o velho Barão Vermelho que passará em sua bengala.

Da posse de violões virgens e palitós brancos, mulheres barbadas começaram seus expedientes. Empregos!? Dos bueiros e ralos, entupidos, não deu para escutar seus agudos sorrisos provindos dos altares dos prédios. Avenida Paulista.

Sincronizadas, colocaram seus instrumentos de corda entre as coxas e saltaram sobre os carros. Não voaram. Evocaram estrondos concretos. Texturas pollockianas. Arranjo de rosas rubras e murchas. Desfile Fashion Week. Decomposições.