segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Açude de oceanos...

Misterioso?

Índico,
negro, judeu...
sou obrigado a ser anjo
a preservar a pureza descrente do
ser
Seu passado
um raro objeto que se foi...
perdido
no cofre de mais um
templo, campo, navio
de guerra
naufragado.

Morreram todos,
comandantes e vírus,
nós,
caracóis indigentes,
submersos no inconsciente...
abismo glacial
coletivo.

Ciclo...

e só por isso
vida

ainda
cromo...
Somos recifes de corais
seres participantes do
ecossistema
na imensidão do Atlântico,
porto natural
anti-sistema,
açude de oceanos,
pacífico.

domingo, 16 de novembro de 2008

Abacaxi?

Senhorita Será,

Independente do sexo... Todo o Homo Sapiens que se preze já acordou com a bexiga de pé... Erectus... Gritando BOM DIA antes mesmo da própria mente parir... E deu tanta importância à condição "de saco cheio" da genitália que, para conseguir logo acalmá-la, desprezou a existência das demais partes de si, por exemplo... Os olhos... Virou cego em procissão... Máquina de fazer romaria ao santuário da urina-de-todo-santo-dia... Não dando a menor atenção, ao menos antes de partir para a peregrinação do xixi, ao momento mais mágico da manhã... Ao instante da reabertura das pálpebras... Ou ao natural ponto de transição entre a vida do faz-de-conta e o canto da vida íntima... Expondo à luz o par de pupilas dilatadas, sem qualquer cerimônia de abertura... Atendendo a desejos primitivos e ordinários... Não percebendo que pela suas janelas ciliares havia liberado todos os seus óvulos oculares ao bombardeio de milhões de raios de espermas solares, igualmente como fazem em vídeos pornôs as atrizes com as suas vaginas... Transformando o que poderiam ser grandes-imagens-daquele-dia em vulgares-imagens-de-mais-um-dia...

Mas então eu te digo Senhorita Será... Seja criativa ou a própria criação... Pare de te condicionar a banalidades... Pois te enganas ao achares imenso o teu esforço de correr o mais rápido ao banheiro... Eis uma óbvia decisão... Engana-te ao despejar todos os teus sonhos de uma noite sobre mais um vaso sanitário... Grande merda!

Peço-te licença... Permitas-me uma recomendação... Não te mexas... Permaneças como estás... Descoberta... De bruços e membros abertos... Folgada como sempre... Invadindo todos os hemisférios da nossa cama... Por um momento te peço que esqueças dos meus cabelos e do teu sexo... Que agora sejas a pura inocência ou a sonsa que, de vez em quando, sei que gostas de ser... Porque aí deitada... Estátua... Viras história... Representarás a própria memória e saudades das tuas brincadeiras de infância... Batatinha frita: um, dois, três... Abacaxi? XI-XI... Até "seu rei mandar dizer" que finjas ao teu pai-companheiro que és um bebê... Faças-lhe saber que além de nossa mulher, também és aquela mesma criança... E após ansiosa espera... de olhos fechados já trêmulos... Quando ele colocar a mão recém acordada por dentro da tua fralda de algodão... Checando o nível da tua lubrificação... Saberás que aquele é o exato momento em que a vida vai estar te reintegrando à liberdade condicional de fazer pipi na cama... Até que a última gotícula de arrepios te abra lentamente os olhos para uma face surpresa de desejo e de gratidão... Reais.

Apartheid do Participando Composto...

Letra: e se tiver ou se não foi?
Melodia: quando é ou não veio?
Harmonia: como vai ou não quis?

Maestrando,
Sol na clave de Fá!
SOFÁ?
Mi em cima de ti sem dó sustenido maior,
Ou...
Ré em baixo de si aumentado?

Lombrarde,
Qual foste a música!?

Eu cantaste em negrito...


Tu escrevo em itálico?

sábado, 15 de novembro de 2008

JORNAL INSÔNIA, Coluna Social, "Um Voyeur da Madrugada..."

Colunista: David Sobel

No centro acústico da reverberação alheia: em "Campina da Boca Grande", direto do mais alto ouvido de um prédio com três andares localizado no epicentro da língua da cidade, iniciou-se um envolvimento entre: o Som “da necessidade do silêncio”, o Som “da necessidade do som” e o Som “da necessidade do sono"...

Som “da necessidade do silêncio”
...
Som de cooler,
Som de freegobar,
Som de ventilador,
Som de escada,
Som de ausência do motor e das correntes do elevador dos pais,
Som de saudade de som.

Som “de Olhos Fechados”
...
Som de sirene do carro de lixo,
Som de apito dos vigilantes,
Som de cães...
Som de paranóia,
Som de gatas...
Som de cio,
...
Som "de Transitoriedade das Cores"
...
Som de galo...
Som de coronéis,
Som de passarinhos...
Som de softwares livres,
Som de sampler de “bom-dia!”.

Som “da necessidade do som”
...
Som de “tic” nervoso da cadeira,
Som de estalar os ossos dos ouvidos,
Som de assobiar uma melodia vulgar,
Som de espirros dos livros e das fitas cassetes,
Som de coçar as escamas de suor,
Som de respirar forte quando não esquecer de respirar,
Som de pressionar com a língua o bafo de cigarro entre os dentes da janta,
Som de dialogar com uma composição ainda no ventre.

Som “da necessidade do sono”
...
Som de inspiração do Som “da necessidade do silêncio”,
Som de transpiração do Som “da necessidade do som”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

De ti-tio para pa-pai...

Olhos que me amanhecem os olhos...
em azul...
Maria do céu-de-aracajú.

Coceira...
Ação da natureza...
A rede balança...

Eu, objeto voador não-identificado...
tenho o indicador direito...
de duas décadas e meia...
roubado...
por cinco pétalas de dois meses...
Surpresa?
Um presente de Deus...
deitado entre os meus braços...

Viro chupeta de coração sem dentes...
Objeto de barbas...
atenciosamente observado...

Não me piscam...
Encaro o olhar...
Fico pequeno...

em conta-gotas...
Água na boca...

Babo já babá,
refaço xixi na colcha...
Choro,
Cheiro,
Chovo...
E toco...

chorinho...

A evolução da vida pode estar num vinil...
Dois violões...
ou em lágrimas...

O tempo é mãe...
do silêncio, do som...
do peito, da fralda, do algodão, da loção, do talco, da pomada,

da pegada do gênio...
Do partido alto...
Possivelmente boa de peia, pisas, palmadas...
Vaias?

Várias palmas!

... pa... tu... li... pa... tu... li...

O horoscópo das flores...
jazz escutam de longe a própria voz...

... PA... TU-LI-PA... TU...

Identificam os meus acordes...
nos reflexos dos girassóis azuis...

que ainda olham para mim...

BLEM dentro de mim...

... LI-PA... PAI.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cartesianus...

Sou assim Descartes...
Fabricante de produtos com defeito de fábrica,
Disléxico no pensamento,
Orador das paralinguagens,
Empregado e nem sempre pregador...
das próprias sinestesias e orgias.

Um escritor-de-dedo...
sentado na areia da praia,
leitor de íris e de pálpebras...
não de pontuações e nem de palavras.

E eis aí a Arte no meu cotidiano...

Para alguns é algo que surge da fé,
em momentos mágicos...
num ato de sublime ins-
...
Piração...
Para mim é muito menos...

para que seja assim
sim
muito mais...

Antes de ser meta é físico.
É simplesmente ne-ces-si-da-de...
Ação fisiológica pulmonar de excreção.
Uma mera bombinha de ar,
Ou mesmo a própria asma...
ao asfixiar todos os meus Estados de sobrevivência...
pura...

Transpiração para continuar a respirar.

Ou melhor ainda...

É também inspiração...
Mas não um ato de liberdade,
Mais sinônimo até de reclusão...

Vem quando a ignorância me deixa mudo...
Sem ação.
Com vergonha de expor os cabelos da bunda...
Exalto a beleza do cu
sem acento
da razão.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Conhecendo o MUITO e o BEM...

Sinto que meus mestres me conhecem MUITO BEM
Sinto MUITO por não me ensinarem BEM quem são os meus mestres

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Zen!?

Queridíssimos pretéritos, princípios, presentes, recentes...
Quem vos fala segue
na contemplação do tempo que se foi...
Vive apenas ação.

De lado, de frente ou de costa...
corre e só olha para o céu.
Nem precisa ver o chão.
Já sabe que é do mar.
Areia fofa...
fina...
Confia na pisada.
Acredita estar em casa.
É verdade?
Então basta.
Continua!

Desculpa...
Tem momento que a paciência não cabe...
não move...
finca nó...
só.

Até peço licença...
cuido...
levo saudade...
Mas se saio ou se chego...
Dou movimento...
esqueço.

Quero ritmo...
definir passos...
harmonizar a dança...
mais pra cá do que pra trás.

Vem mar!
Vê mar...
Quem vos fala quer você em verdade.
Juntos por dentro...
em firme base e liberdade...
Teu corpo quente...
seco...
É certeza!
Zap...
Zum...
Zen!?
VEM... vem... ve.. v.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"Do fim ao princípio..."

Eis o tempo das distâncias...
Das proximidades lúdicas e virtuais...
Quase sempre tão retas que tangem o cheiro...
E não tangenciam a circunferência do olhar...
o triângulo do tato...

"Ado, ado, ado... Cada um no seu quadrado..."

Tenho andado próximo a relativos princípios...
bem longe do fim...
Ufa!

Fim aos excessos de raízes...
deixo apenas as que me sustentam...
para vôos bem mais longes daqui...
Até...
Mas o que é que você veio fazer aqui mesmo?

A quem entende como viagem...
outros como expressão
ou até necessidade...
Diferente?

A verdade é simples...
Poucas vezes única...

Apenas.

sábado, 27 de setembro de 2008

Camisa

Pequena...
Exata forma...
Sucinta pele...
Derme branca...
Branca...
E já negra...

Epiderme...

Batuque forte...
Bem prolongado...
Mais um pouco de silêncio...
Para...

Um longo salto...

Leve...
E chega...
Exato!

A luz está acessa...
Não desliga pois tem gente usando!

A porta está aberta...
É o som...
daqueles bem baixinhos que vem crescendo...
virando brisa da respiração...
Me penteia os pêlos do nariz.

O clima aqui está frio....

CG aonde está a minha única camisa P?
Peixe sem escama vira sapo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Par e ímpar

Perto?
Apenas um pequeno parto para quem tem o pé já grávido.

Longe?
A paz é a satisfação da criança-sem-mãe,
chupando o leite na palma da mão
de quatro pneus importados...

Papa-de-borracha.

Perto?
Mais um "N" parente
sentado sobre o próprio colo.

Longe?
O ímpar não existe sem o par.
O par não existe sem o ímpar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Remela

Lembra?
Você sonha...
eu te liberto com a unha do indicador...
é ela quem toca o SOL...
AGORA...
Bem na hora em que o rei já renasce...
AQUI...
Na terceira corda do violão...

RE-me-LA...

Deitam-se assim as últimas gotículas de sons da garoa...
Pernampinense...
Em dois ouvidos claros de lábios semi-abertos e secos...
Sergipessoenses.

Filtro os sonhos acaju ou seriam queimados?
Encaracolados...
Em minhas mãos...
As energias agora se acalmam...
e me calam os olhos para a lua da noite do dia...

BOM!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Brisas?

Toda brisa...
Tem cheirinho de origem desconhecida...
Não fala... Assovia calada...
Circula... Toca... Não deixa provas...
Se faz de covarde... Calcula sua coragem...
Inventa suas direções... Liberta seu destino...
Até ser a própria Rosa... Dos ventos...
Meu ventilador...


Poesia recitada pelo Grupo Marxuvipano presente no DVD "Mudo".
Para ouvir acesse: http://www.myspace.com/marxuvipano

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Gabirucentrismo

A silenciosos dez-graus de granito abaixo dos meus ouvidos os ônibus cabralinos já descobriram os seus motores, e cá estou Eu com meus desnudos dois metros esparramados sobre um pequeno sofá de dois assentos, cafunado por cana-de-cabeça e ainda aquecido pelo cobertor do DVD pornô “11 Mulheres e Nenhum Segredo”, made in Pirata, made in Shopping Centro de Campina Grande. Diante de tanta passividade, é claro que o título e a história desse roteiro tão singelo foram modificados, ou melhor, re-parodiados pelo enorme queijo da minha mente-ratoeira para “Eu quero ser Alexandre Frota”. Uma realização em parceria entre Os Megas Stúdios Lado Direito e Esquerdo do Cérebro junto ao Lado Bem-bem Abaixo do Cérebro Company Entreteniment.

Eu, John Malkovich, nesta nova versão da história sou “o garanhão bad-boy” e protagonizo cenas de sexo grupal com 11 clones de uma mesma mulher. Na verdade, trata-se de uma garotinha de mais ou menos quinze anos, que há mais ou menos quinze minutos, no trailer do Sr. Lucas das Buninas, não ligando para presença da sua acompanhante, me provocava os cílios em direção aos seus grandes lábios carnudos, molhados e já contraídos pelos prolongados sarros com algumas pedras de gelo dentro do seu orifício bucal. Embora insípidos, os cubos hídricos pareciam ainda guardar entre as paredes do copo, o doce cheiro da transa “cana-com-coca”.

A cada intervalo de sessenta segundos e nove minutos, o cilíndrico descartável era conduzido pelos cinco indicadores da sua mãozinha, dos beiços até o acento enferrujado, sendo posto entre aquelas sufocantes carnosidades que sobravam da mini-saia. Hipnotizado a esses “vais e vens manuais” entre a boca e as coxas, não demorei a notar que aquele mordido plástico branco, sujo do mais vermelho batom, escondia de mim a maçã do fim ao princípio de um prazer sádico que aquela cobra sentia em registrar o meu desejo sendo algemado e chicoteado pela timidez. Ela por todo tempo gozara calada, descarada, sob o meu olhar impotente.

Ainda hoje, logo-logo, quando a Catedral sinalizar o toque de recolher do meio-dia e a escadaria do prédio começar a reverberar a sua antimonotonia, saberei que a minha passagem pelo portal mental de um ator pornô já estará em exibição por todas as antigas salas de projeção das ressacas campinenses. Tanto no Cine Capitólio do Medo e no Cine São José da Vergonha, como no Cine Babilônia da Dúvida... Mas também saberei que me auto-encaminharei certamente para os palcos do “Serrotão” e dividirei fama e cela com os mamulengos da minha covardia, da minha solidão e do meu pênis.

(Campina Grande, 07.2005)
Obs.: Este texto foi publicado na edição n.7 (Jun. de 2008) da Revista-Zine-Jornal de Audiovisual "A Margem".