Senhorita Será,
Independente do sexo... Todo o Homo Sapiens que se preze já acordou com a bexiga de pé... Erectus... Gritando BOM DIA antes mesmo da própria mente parir... E deu tanta importância à condição "de saco cheio" da genitália que, para conseguir logo acalmá-la, desprezou a existência das demais partes de si, por exemplo... Os olhos... Virou cego em procissão... Máquina de fazer romaria ao santuário da urina-de-todo-santo-dia... Não dando a menor atenção, ao menos antes de partir para a peregrinação do xixi, ao momento mais mágico da manhã... Ao instante da reabertura das pálpebras... Ou ao natural ponto de transição entre a vida do faz-de-conta e o canto da vida íntima... Expondo à luz o par de pupilas dilatadas, sem qualquer cerimônia de abertura... Atendendo a desejos primitivos e ordinários... Não percebendo que pela suas janelas ciliares havia liberado todos os seus óvulos oculares ao bombardeio de milhões de raios de espermas solares, igualmente como fazem em vídeos pornôs as atrizes com as suas vaginas... Transformando o que poderiam ser grandes-imagens-daquele-dia em vulgares-imagens-de-mais-um-dia...
Mas então eu te digo Senhorita Será... Seja criativa ou a própria criação... Pare de te condicionar a banalidades... Pois te enganas ao achares imenso o teu esforço de correr o mais rápido ao banheiro... Eis uma óbvia decisão... Engana-te ao despejar todos os teus sonhos de uma noite sobre mais um vaso sanitário... Grande merda!
Peço-te licença... Permitas-me uma recomendação... Não te mexas... Permaneças como estás... Descoberta... De bruços e membros abertos... Folgada como sempre... Invadindo todos os hemisférios da nossa cama... Por um momento te peço que esqueças dos meus cabelos e do teu sexo... Que agora sejas a pura inocência ou a sonsa que, de vez em quando, sei que gostas de ser... Porque aí deitada... Estátua... Viras história... Representarás a própria memória e saudades das tuas brincadeiras de infância... Batatinha frita: um, dois, três... Abacaxi? XI-XI... Até "seu rei mandar dizer" que finjas ao teu pai-companheiro que és um bebê... Faças-lhe saber que além de nossa mulher, também és aquela mesma criança... E após ansiosa espera... de olhos fechados já trêmulos... Quando ele colocar a mão recém acordada por dentro da tua fralda de algodão... Checando o nível da tua lubrificação... Saberás que aquele é o exato momento em que a vida vai estar te reintegrando à liberdade condicional de fazer pipi na cama... Até que a última gotícula de arrepios te abra lentamente os olhos para uma face surpresa de desejo e de gratidão... Reais.
Um dia serei mulher
Há um ano
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