segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Pelos cabelos de Shiva...

Baixo a cabeça para trás... Deixo a minha face exposta a tapa... Água... Água... Agüinha... Gelada... Éis o gozo do céu campinense ampliando os graus do meu "quatro ôio"... Embaçado...

Desfaço a face... Retorno à festa... Sobre a lente da miopia aguada vejo a explosão de todos os glóbulos-de-luz...

Saturam-se as cores... Apagam-se as formas... Apenas enxergo os movimentos de uma fina garoa... Que enverniza todos os corpos... Que ritualiza todas as danças... Que em meio as tempestades de som... Evapora uma melodia suave... Quase similar ao silêncio...

Talvez porque não é da natureza das águas o canto...

Desencontro Corpo-comida

Puro sal. Sou o subsolo do Mar Vermelho aberto por Moisés. Pereba ardente não cicatrizada por Deus. Assopro o hálito criador. Lâmpada sem parafina não apaga. Queima a língua. Viro carne-de-sol de peixe. Ração da páscoa para as estrelas-do-mar...

Elas...

Animais com forte prisão de ventre. Pouco se reproduzem. Pouco trepam. Regeneram-se. Não mastigam. Jogam seus estômagos pela boca. Não consomem. Engolem-me...

Eu...

Espinhas são meu corpo esquecido no prato, lembrado na garganta à espera de uma banana amassada ou uma paçoca mais água-viva. Oxigenada. Ardores...

Corpos...

Diabéticas chupadoras de pirulitos-coração. Sem chicletes? Reguladas por aparelhos "gastro-acadêmicos" estrangeiros. Denominadas como "Arrozes de festa japonesa" pela cozinha sofisticada e como "putas enrustidas" ou "putas do cu-doce" pela cozinha popular. Possuidoras de cinco mãos mimadas e um ânus que apenas dorme se encaixado sobre "Canos-de-açúcar" da sociedade equinodérmica. Não chupam tamarindo, nem pitomba e também não comem manga inchada com sal. Como possuem dentes dormentes? É como vovó dizia: "é só mastigar fortemente o cabo do talher aonde comem e seus dentes novamente se acordarão"...

Comida...

Ao menos antes de me engolirem, façam-me cafuné entre as suas línguas com uma hidromassagem de saliva. E se por alguma vez não me adentrarem faringe abaixo - caso raro, não me empalitem ou me enforquem com suas fraudas dentais norte-americanas de tutti-fruti. E quando adentrarem, não mais me absorvam dormindo! Não mais me expilam lendo revistas autofágicas...

Corpo versus Comida...

Estou pólen de íon desencontrado neste ecossistema da flora intestinal feminina. Perdido em um fast-food para estrelas-do-mar. Pálido. Inodoro. Sou quase ácido sem base. Muito denso. Sinto que bóio em meio a uma superfície poluída de superfícies. Muito menos. Sinto que circulo em um sistema digestório indigesto, limitado. Aonde quem manda são os cus, os sexos e as bocas... Que me desculpem mulheres! Esse sistema não absorve o meu amor. O meu amor hoje não absorve os seus cérebros...

Todo gozo é salgado. Tira-gosto? Que tal um bom vinho tinto... Seco.

Desencontro Recife-Fortaleza

...Por fim, virei pelo avesso e me fiz início... Por não ser a pessoa ideal a vestir o papel de Dom Quixote... Fiz o meu bigode e a tua barba... Virei casa de taipa abandonada na beira-do-mar... Pelado, seco e sem rumo... Acabei desbravado por algumas dunas cearenses... Daquelas que se esvaem em muito pouco tempo... Talvez em uma noite... Mas que não eram naturais, mas que não eram macias, que não adentravam os dedos ou se abraçavam ao vento para desfilar antes de se jogar cortantemente sobre a pele; tão duras... Que não davam pra deitar e rolar de olhos fechados sorrindo... Que não me sujavam a boca e não me provocava aflição nos dentes ao mastigar... Que não findavam no mar... Num banho de água salgada... Na vitalidade das ressacas da praia de Iracema... Que não eram a mulher dos lábios de sal... Que... Não... Eram... E... Que... Talvez... Não mais... Ceará...!...?